Profissionais apostam na tendência para criar projetos sustentáveis, sem perder a funcionalidade e a beleza da matéria-prima
Transformar resíduos ou produtos descartáveis em novos materiais ou objetos práticos e de qualidade sem a utilização de processos químicos. Essa é a definição de upcycling. Apesar do nome complicado, o conceito é simples e muito útil. Ao contrário da reciclagem, no qual o material primeiro é destruído para depois ser convertido em algo novo, nesse processo, aquilo que foi considerado lixo é usado na sua forma original, tendo sua utilidade substituída. Em outras palavras, a prática do upclycling confere mais valor aos produtos antigos.
Assim, a técnica possibilita evitar desperdício de materiais potencialmente úteis e reduzir o consumo de novas matérias-primas na criação de produtos. Uma consequência direta desse processo é a menor emissão de poluentes que aumentam o efeito estufa e a redução do consumo de energia. Para quem é adepto das práticas sustentáveis, é a garantia de melhores condições de vida.
Os benefícios do upcycling já vêm sendo reconhecidos pelos consumidores, como observa a arquiteta Flávia Soares. Tanto é assim que sua utilização tem crescido e ganhado a aceitação do mercado. Um dos pontos que contam a favor da técnica é a economia, já que os custos e a quantidade de materiais utilizados durante este processo são menores. “Essa prática é capaz de transformar o velho em novo sem a utilização de processos químicos. Isso é o que mais chama a atenção das pessoas”, conta.
Essa descoberta por parte do consumidor tem incentivado ainda mais o desenvolvimento de projetos que busquem tornar o upcycling mais acessível. “Os profissionais das áreas de arquitetura e decoração têm utilizado o conceito em seus projetos, pois, além de ser uma forma de contribuir com o meio ambiente, é capaz de dar nova roupagem ao velho e criar designs inovadores e com estilo”, acrescenta Flávia Soares.
Flávia Soares diz que, em meados da década de 1990, no momento em que se falava da quebra de concreto e tijolos, Reine Pilz disse que isso seria downcycling. “Ele afirmou na entrevista que o que precisamos é de upcycling, em que é dado mais valor aos produtos antigos e não menos”, completa a arquiteta.
Rentabilidade
A arquiteta Maria Aparecida Teles observa que atualmente, com a conscientização sobre a importância da sustentabilidade, verificou-se que o aproveitamento de materiais seria mais rentável e prático. “Upcycling é o processo de transformar resíduos ou produtos inúteis e descartáveis em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. Isso é, sem precisar passar pelos processos químicos e físicos da reciclagem”.
Antes, para que materiais como embalagens plásticas pudessem ganhar novas utilidades, era necessário o emprego de produtos químicos e combustíveis para fazer essa conversão. “Agora, para que embalagens plásticas ganhem nova utilidade basta criatividade. Utilizando-se do que é upcycling, os profissionais conseguem transformar as garrafas PET em sacolas ou até mesmo bolsas luxuosas”, diz Flávia Soares.
Transformação sem limite
De objetos de decoração a móveis, os resultados do upcycling são surpreendentes. Com paciência e criatividade é possível fazer por conta própria peças bonitas e com um alto valor comercial
Apesar de ser recente, o upcycling tem sido difundido rapidamente, acompanhando a necessidade do desenvolvimento de projetos sustentáveis. Por isso, não é difícil encontrar soluções que contemplem o conceito. “Já se veem muitos produtos e até móveis com o conceito aplicado. Os designers brasileiros Irmãos Campana são mundialmente conhecidos por transformarem resíduos em poltronas, cadeiras, entre outros, aproveitando a forma e estética do material utilizado”, diz a arquiteta Marina Dubal. Entre os artigos e peças de tamanhos menores, ganham destaque objetos feitos com pneus de bicicleta, como fruteiras, e cadeiras feitas com resíduos de cordas. “Outro exemplo mais recorrente é o uso da madeira de demolição e até peças prontas, como portas e janelas antigas”, comenta.
E perspectivas para esses profissionais é o que não falta, como observa a arquiteta. “Recentemente, com o aumento da demanda por objetos mais originais, antigos, o número de lojas que fazem upcycling ou vendem os insumos para esse tipo de prática vem crescendo progressivamente”, conta Marina. Um produto produzido por meio de upcycling pode ser feito por artistas, artesãos, arquitetos, marceneiros, pedreiros e outros profissionais.
Apesar das vantagens de se investir no conceito, a arquiteta Maria Aparecida Teles observa que, pelo fato de ter como matéria-prima objetos descartados, há quem não simpatize com o upcycling. “Há preconceito de que, por ser um material reaproveitado, não é ‘chique’. Mas esse conceito está mudando”, constata. Mas a resistência do brasileiro relativa ao upcycling pode ser trabalhada, e é isso o que procurar fazer a arquiteta. “Quando chego à casa do cliente e vejo algo antigo, já vislumbro a utilização em outra função dentro do projeto do ambiente a ser realizado”.
Entenda a diferença
» Upcycling
É o processo de transformar resíduos ou produtos inúteis e descartáveis em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. Utiliza materiais no fim de vida útil na mesma forma que ele está no lixo para dar uma nova utilidade. Um exemplo bem conhecido é o emprego da lona de caminhões na fabricação de roupas, bolsas, chapéus, bonés e outros artigos. Ou o uso de resíduos para o artesanato ou design de novos produtos.
» Downcycling
Envolve a conversão de materiais e produtos em novos materiais de menor qualidade. Ou seja, a integridade do material é, de certa forma, comprometida com o processo de recuperação. Algumas resinas plásticas, como a PEAD – usada como matéria-prima de embalagens primárias de leite, iogurte e sucos –, não podem ser verdadeiramente recicladas. O resultado de sua recuperação não pode ser usado novamente como embalagens de produtos alimentícios. Essas resinas são transformadas em coisas, como mesas, cadeiras, lixeiras e requerem tratamento extra em termos de energia e dos produtos químicos que compõem as resinas.
» Reciclagem
O termo acaba sendo usado em todos esses processos (upcycling e downcycling), até mesmo para poder simplificar para um
leigo. Mas na hora da escolha do material para a fabricação das peças, é importante entender essas diferenças e usá-las como critério de escolha. A reciclagem pode requerer muita energia em seu processo, produzindo artigos com menor valor ambiental.
» Upcycling
É o processo de transformar resíduos ou produtos inúteis e descartáveis em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade. Utiliza materiais no fim de vida útil na mesma forma que ele está no lixo para dar uma nova utilidade. Um exemplo bem conhecido é o emprego da lona de caminhões na fabricação de roupas, bolsas, chapéus, bonés e outros artigos. Ou o uso de resíduos para o artesanato ou design de novos produtos.
» Downcycling
Envolve a conversão de materiais e produtos em novos materiais de menor qualidade. Ou seja, a integridade do material é, de certa forma, comprometida com o processo de recuperação. Algumas resinas plásticas, como a PEAD – usada como matéria-prima de embalagens primárias de leite, iogurte e sucos –, não podem ser verdadeiramente recicladas. O resultado de sua recuperação não pode ser usado novamente como embalagens de produtos alimentícios. Essas resinas são transformadas em coisas, como mesas, cadeiras, lixeiras e requerem tratamento extra em termos de energia e dos produtos químicos que compõem as resinas.
» Reciclagem
O termo acaba sendo usado em todos esses processos (upcycling e downcycling), até mesmo para poder simplificar para um
leigo. Mas na hora da escolha do material para a fabricação das peças, é importante entender essas diferenças e usá-las como critério de escolha. A reciclagem pode requerer muita energia em seu processo, produzindo artigos com menor valor ambiental.
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